Resenha: “Desamada: um corpo à espera do amor” é o melhor exemplo de humanização do corpo da mulher negra

 




Há pouquíssimos dias eu terminei mais um livro de poesia, gênero literário o qual tenho uma certa obsessão kkkkk. Dessa vez eu resolvi ler um livro que me foi sugerido na amazon e como eu me apaixonei pelo título e pela capa decidi comprar e, sem dúvidas, foi a melhor coisa que fiz. Recentemente, eu tenho consumido diversos tipos de conteúdos que buscam retratar a solidão da mulher preta e que partem diretamente de mulheres negras, a fim de comparar abordagens e encontrar semelhanças no que nós, enquanto mulheres pretas, sentimos. Nesse sentido, a obra de Midria faz isso de forma singular porque a cada poesia que eu lia conseguia enxergar um sentimento meu sendo retratado, assim como me identifiquei com algumas situações que a poetisa escreve. Uma das várias que me chamou atenção foi essa aqui: 
“A pior parte da solidão da mulher negra é guardar em mim
O afeto inteiro que eu sempre me senti pronta para despejar no mundo”

Esse poema conseguiu descrever com exatidão como nós mulheres negras nos sentimos com a ausência de trocas amorosas de afeto, porque existe dentro de nós uma vontade genuína a ser nutrida e que não é alimentada, então permanece guardada dentro do nosso interior. Assim, suas poesias se voltam também para temáticas relacionadas às consequências e déficits causados por abusos e também pelas ausências de figuras de referência para meninas negras, sobretudo paternas. A autora expõe acontecimentos de sua vida e se utiliza disso para definir o sentimento que toda uma camada social estigmatizada compartilha, como por exemplo, quando ela escreve: 
“não tenho medo de ser abandonada 
tenho memória”

Esse trecho reflete o abandono frequente que as mulheres negras estão sujeitas na nossa sociedade extremamente racista, tanto que não se trata mais de um medo porque já se tornou algo rotineiro, portanto, já é uma memória que todas nós carregamos. Contudo, apesar de estar num corpo repleto de nuances e vulnerável socialmente, a autora também parte para um lado de esperança e desenvolvimento pessoal, enxergando que o amor só pode florescer numa jornada de autoconhecimento:
“Eu sou passível de amar? 
eu escrevo no meu caderno a afirmação matinal de que sim

Eu sou merecedora do amor
o amor também me pertence por direito”.

Eu finalizo esse texto com essa poesia esperando que você mulher negra também se sinta acolhida e humanizada por essas palavras, entendendo que seu corpo também é um lugar de afetos. Eu gostaria muito que mais mulheres negras tivessem acesso a essa obra maravilhosa da Midria, só que mais ainda, todas as outras pessoas do nosso corpo social, porque nós mulheres negras já sabemos das nossas questões, quem precisa saber são vocês que adentram e tem acesso a nós diariamente. Como a própria escritora afirma em sua obra ao se referir ao cuidado que deveria ser direcionado às mulheres negras: “[…] é preciso cautela para pisar aqui” e assim encerro com esse importante trecho “É preciso um mundo de coragem para amar mulheres negras”.


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