A importância da literatura poética para as mulheres negras como um lugar de afeto e escrevivência

 


Há um bom tempo eu venho me aprofundando e me dedicando mais na temática da literatura poética feita por e para mulheres negras, porque carregam dentro de si um afeto e simbolismo que só quem é uma mulher, com um corpo inundado de traços marginalizados compreende de verdade. A minha autora favorita, sem duvidas, é a Conceição Evaristo, apesar de ser mais conhecida pelos seus contos, a escritora possui um conceito intitulado por ela mesma de escrevivência e isso consiste no ato de escrever as suas vivências, transmitir seus sentimentos e transformar esse ato da escrita num meio de sobrevivência num mundo que severamente mata mulheres negras de todas as formas, desde seus desejos até sua paixão pela vida e por si mesma. 

Dessa forma, a literatura poética possui um papel fundamental na escrevivência porque através de poesias você desabafa sobre o peso, alegria, prazer e complexidade de ser uma mulher negra. Certamente, autoras como Ryane Leão, Luciene Nascimento, Maya Angelou, Upile Chisala e Carolina Maria de Jesus (que também escrevia poemas em sua obra mais famosa “Quarto de Despejo”), transmitem na sua escrita um fôlego e um amparo em meio a tantos momentos de angústia e asfixia social. Como por exemplo, na obra "Eu destilo melanina e mel" da escritora africana citada acima, Upile Chisala escreve: 

"Minha querida, / você é da cor da terra, / você herdou o que é sagrado. / Não deixe ninguém silenciar a bondade nos seus ossos / Não deixe ninguém fazer você duvidar do seu poder. / Você importa."

A última obra que li com temática poética foi a maravilhosa “Poetas Negras Brasileiras - Uma Antologia” que organizada por Jarid Arraes, reúne poemas de diversas mulheres negras espalhadas pelo Brasil e transmitem em sua escrita traços de sentimentalismo, paixão e muitas outras sensações que nós mulheres apaixonadas por poemas nos permitimos sentir e descrever. Assim, perfeitamente uma das obras contidas nesse livro define a poesia como “ato sagrado de fazer amor com as palavras” (Marina Farias), o que de fato acontece quando você busca expressar suas intenções, carências e afetos na poesia pois é um dos poucos espaços confortáveis para tal, quando nos referimos principalmente a mulheres marginalizadas fora dos lugares de  acolhimento na nossa estrutura social regida pela branquitude.

Assim, espero que esse texto possa ter apresentado aos que ainda não conheciam um pouco mais da literatura poética o quão extraordinária ela é, e aos que já possuem certo conhecimento e fazem uso dessa literatura, também espero que seja uma ferramenta de cura, um lugar de afeto e amor. <3 

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