Resenha: "Ejaculação Responsável" de Gabrielle Blair é um manifesto contra uma cultura de responsabilização feminina.
Os direitos reprodutivos e sexuais das mulheres ainda são motivos de muitos debates e até mesmo de descontentamento por parte de muitos grupos sociais. Essa discussão sempre gira em torno da culpabilização da mulher em questões voltadas pra gestações indesejadas, isso pode se evidenciar na frequência que ouvimos a famosa frase (muito misógina) “quem mandou abrir as pernas?” quando nos deparamos com a notícia de uma jovem grávida precocemente, o que também transparece uma repulsa por parte da nossa sociedade patriarcal a mulheres que sentem prazer sexual. Contudo, na maioria dos casos (na verdade sempre né?) não se questiona o papel masculino, até porque nenhuma mulher cisgênero é capaz de produzir sêmen e portanto não podem engravidar sozinhas.
Desse modo, a autora dessa singular obra se pauta na questão de que a problemática do aborto e da gravidez indesejada diminuiria consideravelmente se os homens ejaculassem com mais responsabilidade, entendendo que suas atitudes produzem consequências, afetam relações e até mesmo um outro corpo, que pode estar mais vulnerável a riscos de vida nessa nova condição (é só observar pela quantidade exorbitante de mortes maternas).
Nesse sentido, ela convida os leitores a mudarem o foco e entenderem que os maiores causadores de abortos e gravidez indesejada são, na verdade, os homens, já que vivemos numa cultura que coloca todo olhar pra mulher, como se o dever da prevenção fosse somente dela. Bom, a gente pode ver isso pela quantidade de métodos contraceptivos existentes e a responsabilização da mulher de adentrar a algum deles, a partir do momento que se torna sexualmente ativa. Porém, quando um homem começa sua vida sexual ele também sofre essa pressão pra utilizar algum método contraceptivo? Provavelmente não, porque a nossa cultura ainda acha que esse dever é somente da mulher.
Ao longo da obra ela mostra também os riscos de uma gravidez, as consequências e de forma genial ela rebate a ideia machista de que gravidez indesejada é uma espécie de “castigo” para mulheres que transam por prazer e não por reprodução, ela afirma “Cerca de 60% das mulheres que fazem abortos já são mães. Assim, se ter um filho e cuidar dele é um “castigo”, então elas já estão sendo punidas. Além disso, nenhuma criança deveria existir como forma de castigar alguém!”, vale ressaltar, que esses dados são de acordo com sua realidade estadunidense, aqui no Brasil, de acordo com a PNA (Pesquisa Nacional de Aborto) esses dados aumentam, pois em torno de 67% das mulheres que abortam já são mães.
Posso estar sendo repetitiva com essa resenha, mas o que tudo isso quer dizer? Basicamente, que é extremamente cansativo e desgastante viver num mundo onde as mulheres são responsáveis pela prevenção da taxa de natalidade, mas também por gestações indesejadas e também culpadas por fazer abortos e além disso, por colocarem na adoção quando optam por tal, ou seja, responsabilizadas em todo momento.
Mas caro leitor, apenas se questione: será que os parceiros sexuais não tem absolutamente nenhum grau de responsabilidade? Quantos homens você conhece que realmente usam camisinha? Ou que cogitam fazer uma vasectomia? Se eles são pais, eles são presentes? Ou pagam pensão? E se fazem isso, quantos reclamam e julgam como besteira? Agora, quantas mulheres você conhece que toma anticoncepcional? Ou cogita colocar um diu ou outro método? Quantas mulheres você conhece que abandonaram seus filhos? Assim, a autora perfeitamente diz “A maternidade não tem férias folga nem licença. E você só se aposenta quando morre”. Por fim, espero que essa resenha tenha não só te informado sobre a realidade, mas também te tocado, a fim de participar de uma mudança efetiva de pensamento e consequentemente de realidade.
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Link para dados estatísticos da Pesquisa Nacional de Aborto, caso se interesse: https://www.terra.com.br/amp/nos/mulher-que-aborta-e-mae-e-tem-religiao-13-dados-sobre-aborto-que-voce-nem-imaginava,0165a5df3d0e08998bb933f2b851901bgmlq790d.html

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