Resenha: "Cartas a um homem negro que amei" de Fabiane Albuquerque é um toque de acolhimento e afeto para mulheres negras


Há um tempo atrás eu estava checando minhas redes sociais e me deparei com uma foto sobre esse livro, na hora o título me chamou atenção e salvei ele na minha lista de leituras para fazer, assim que tive a oportunidade o comprei e sinceramente? Ele ultrapassou todas as minhas expectativas! Longe de mim dar algum spoiler nessa resenha, pois meu objetivo é explicitar o toque existencial, mas é necessário também  dissertar (de modo superficial) sobre o enredo dessa obra. 

O livro assim como o título já sugere consiste numa série de cartas destinadas a um homem negro que foi objeto de afeto, amor e cuidado da nossa protagonista, nomeada de Bia. Nesse sentido, a mesma, já localizada em outro momento da sua vida faz uma análise sobre sua trajetória, inserindo também a participação do homem que ela amou nessa caminhada, escrevendo cartas e através delas reconhece problemáticas que lhe permeou nessa relação amorosa, propõe reflexões e indaga a si mesma acerca de suas vivências.  

É notória a ênfase que a Bia em suas cartas coloca sobre ser projetada, interpretada, mas nunca realmente vista, em diversos momentos essa personagem passa por situações de desumanização, falta de acolhimento e cuidado por parte de terceiros, havendo interferências na sua própria vida que dizem respeito ao fato de ser uma mulher negra, numa sociedade racista, com uma família disfuncional e ainda sofrer fortes consequências provenientes do âmbito religioso que ainda estava inserida. Dessa forma, Bia reflete a sensação de desamparo, medo e tristeza que assola inúmeras mulheres negras do nosso país e o cansaço que nos consome advindo dessas situações. Assim como a influência da supervalorização do amor romântico e o sentimento de vazio e fracasso quando tal questão não nos abarca.

Cada palavra dessa obra é um consolo e curativo para o encontro e abrigo de outros amores além do romântico nas nossas vidas, como também um desabafo de uma mulher cansada de lutar pelo direito de existir. Ao longo dessa leitura pode-se perceber também a existência de uma abordagem sociológica, contando com conceitos formulados por pensadores e até mesmo a citação destes. Por fim, "Cartas a um homem negro que amei" não é a narrativa de uma história romântica, mas uma profunda reflexão sobre como é ser uma mulher negra numa sociedade tão misógina e racista. Finalizo essa resenha com uma das várias frases que me impactou nesse livro "Eu sou constituída por silêncios. Por um lado, é o lugar onde meus pensamentos brotam; por outro, transformado em silenciamento, é opressor."


Comentários

  1. Que resenha linda! O livro nos faz refletir sobre a nossa própria existência, oferece muitas referências das nossas vivências além de ter uma poética muito rica como você citou uma das passagens. Eu espero que a Fabiane possa trazer para nós sua eloquência literária.

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    1. Exatamente! Muito obrigada pelo feedback e fico feliz que tenha gostado da resenha <3

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